O que dizem as evidências sobre a melhor forma de alfabetizar
- Laura Machado
- 10 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de set.
Décadas de pesquisa confirmam: ensinar a ler exige foco na correspondência entre sons e letras
Nas últimas décadas, a produção científica acumulou um conjunto robusto de evidências sobre os caminhos mais eficazes para ensinar uma criança a ler. Em diferentes países, especialmente os que conseguiram avanços consistentes nos níveis de alfabetização, esses estudos convergem em um ponto central: a instrução fônica sistemática é o método mais eficiente para garantir que todas as crianças aprendam a ler, especialmente as que vivem em contextos de maior vulnerabilidade.
O que a ciência já comprovou
A ciência cognitiva da leitura, área que integra conhecimentos da psicologia, linguística e neurociência, demonstrou que aprender a ler não é um processo natural como aprender a falar. É um aprendizado que precisa ser ensinado de forma intencional e estruturada. Isso significa desenvolver, de forma progressiva e sistemática habilidades como:
Consciência fonêmica (reconhecimento dos sons da fala);
Correspondência grafema-fonema (ligar letra ao som);
Decodificação (leitura de palavras);
Fluência leitora e compreensão.


Abaixo está uma tabela comparativa entre a instrução fônica sistemática e o método global de alfabetização, baseada nas principais evidências científicas disponíveis:

E no Brasil?
O problema da alfabetização no Brasil é complexo e multifatorial. Ele envolve desigualdades sociais, falta de formação adequada dos professores, ausência de materiais estruturados e lacunas nos processos de gestão da aprendizagem. Mas seria menos grave se, nas últimas décadas, as políticas públicas tivessem sido guiadas, de forma consistente, pelas evidências científicas disponíveis.
Ainda hoje, a ciência cognitiva da leitura está pouco presente nos currículos de formação docente, tanto nas universidades quanto nos programas de formação continuada. Como consequência, muitos professores alfabetizadores não têm acesso ao conhecimento necessário para aplicar práticas eficazes em sala de aula.
E quais os caminhos para avançar
Adotar práticas baseadas em evidências não é uma negação da complexidade do problema, mas um ponto de partida necessário. Isso significa:
Valorizar o papel do professor, oferecendo formação baseada em evidências;
Estruturar políticas pedagógicas coerentes em toda a rede;
Monitorar indicadores e intervir de forma ágil;
Garantir materiais e rotinas baseadas na ciência.
É com esse olhar que modelos de políticas públicas para a alfabetização devem ser concebidos, colocando o conhecimento científico a serviço do direito de aprender de todas as crianças brasileiras.
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