O retorno às escolas – agora mais seguro com avanço da vacinação e com menor risco de infecção entre crianças – é indispensável para o enfrentamento dos impactos da pandemia na educação

O retorno às aulas presenciais é necessário e urgente para frear os impactos da pandemia sobre a vida das crianças. Com o fechamento das escolas, a fome e a falta de acesso à internet, crianças mais pobres tendem a perder o vínculo e até abandonar a educação formal. De acordo com a PNAD Covid-19, mais de 3,7 milhões de estudantes matriculados não tiveram acesso às atividades escolares no Brasil em 2020.
Em alguns municípios brasileiros, cerca de 80% dos estudantes deixaram de ter contato com a escola desde o início da pandemia, segundo o Todos pela Educação. O mesmo relatório mostrou que, em alguns casos, 100% dos alunos se desvincularam da escola, que é o principal espaço de socialização, acolhimento e aprendizado de crianças e adolescentes.
Se a educação brasileira seguir nesse ritmo até o final do ano, deverá perder o equivalente a duas décadas de aprendizado – e serão precisos mais de dois anos para recuperar a educação dos alunos brasileiros, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Redes devem criar protocolos para retomada
A única solução para evitar o crescimento do analfabetismo, da evasão escolar e das desigualdades sociais é reabrir dos portões das escolas. A medida divide opiniões, mas tem se mostrado segura do ponto de vista epidemiológico.
Um estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG) que avaliou pesquisas sobre o risco de contaminação nas escolas, por exemplo, indica baixa participação deste ambiente no aumento dos casos de covid-19.
Outro ponto-chave é que, com o avanço da vacinação no país (funcionários das escolas puderam receber as duas doses da vacina contra a covid-19 e mais de 60% da população adulta está vacinada com a 1ª dose ou a dose única), o vírus tende a circular menos. Além disso, casos graves de coronavírus em crianças são raros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Considerando isso, o primeiro passo para a retomada consiste em focar na elaboração de protocolos sanitários. Até agora, apenas 57% dos municípios brasileiros concluiu esse documento, de acordo com uma pesquisa da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Diagnosticar e corrigir lacunas para avançar
Após a implantação dos protocolos sanitários, as redes de educação devem mensurar o prejuízo que o afastamento da escola causou aos alunos. Nos municípios parceiros do Pacto pela Alfabetização, as crianças participaram de avaliações que permitiram avaliar conquistas e perdas de aprendizagem durante o ensino remoto.
Esse diagnóstico faz parte das estratégias do Pacto, que realiza monitoramento por indicadores não só durante a pandemia. Formado por um protocolo educacional robusto, o Pacto auxilia a gestão das redes públicas para assegurar o direito de cada criança à educação pública de qualidade, visando a alfabetização até o final do 1º ano.
Neste momento de pandemia, os municípios parceiros também estão realizando um programa intensivo de recuperação – todas as crianças de 2º ano que não conseguem ler, participam.
A possibilidade de corrigir os déficits de aprendizagem de cada aluno, cada turma e cada escola é a ação necessária – e deve ser prioridade absoluta – para que ninguém fique para trás. Dessa forma, é possível garantir que as crianças possam avançar em sua trajetória e conquistar um futuro melhor.